“Naufrágios do Brasil – Uma Cultura Submersa” será lançado em dezembro
O caso do galeão holandês “Utrecht”, que afundou em 1648 em Salvador, Bahia, é um dos 35 naufrágios pesquisados para o livro. E também o mais antigo. O navio estava a serviço da Companhia das Índias Ocidentais e participava de uma batalha naval contra os colonizadores portugueses, quando o capitão do galeão português “Nossa Senhora do Rosário” resolveu acabar com a briga explodindo o próprio navio e levando junto o galeão holandês para o fundo do mar.
Os restos do “Utrecht” ficaram submersos por 333 anos, até serem descobertos por uma equipe de mergulhadores em 1981. Ao menos 50 objetos, a maioria de estanho, estavam preservados na lama e muitos deles acabaram reproduzidos e vendidos por uma marca famosa.
Naufrágios como este, de grande importância histórica e de especial interesse para os mergulhadores, foram selecionados após um criterioso exame de quase dois mil casos registrados, numa pesquisa e produção que teve à frente a editora Cultura Sub, de São Paulo.
”A idéia em editarmos um livro sobre os principais naufrágios da costa brasileira partiu de inúmeras conversas durante viagens que fazíamos para mergulhar e explorar estas culturas submersas. Percebemos que ao chegar nos locais dos naufrágios ficávamos encantadas com o mergulho, mas faltava a história daquele local.... que nem mesmo o dive máster (guia do mergulho) sabia nos contar! Decidimos então trazer estas histórias para o livro, possibilitando acesso tanto dos mergulhadores quanto dos curiosos” relata Ana Carolina e Suzi , diretoras da editora.
O resultado está nas 256 páginas do livro, ao lado de dezenas de imagens dos navios, de suas companhias, de personagens como tripulantes e passageiros e outras que compõem o maior acervo de naufrágios no litoral brasileiro reunido em uma só edição, no formato 320 x 230 mm.
“Foi um trabalho muito criterioso, desenvolvido em anos de pesquisas no Brasil e no exterior, com relatos dramáticos, imagens inéditas e histórias que até então eram desconhecidas do grande público”, diz o jornalista José Carlos Silvares, escolhido para os textos e que é autor do livro “Principe de Astúrias – o Mistério das Profundezas”, que trata do maior naufrágio ocorrido no Atlântico Sul em todos os tempos e que também figura entre os que estão no novo livro.
Mas há outro ingrediente importante na edição de “Naufrágios do Brasil”: as fotografias submarinas de quase todos os episódios, de autoria do fotógrafo Fernando Clark, fotografo e instrutor Padi que reside em Recife. Ele visitou os navios e obteve imagens que mostram como os seus cascos e equipamentos estão hoje no fundo do mar, transformados em habitat natural para dezenas de espécies de peixes e que proporcionaram fotografias de grande beleza plástica.
“Visitar estes paraísos submerso que existem no Brasil, é fantástico. É uma pena que poucas pessoas conheçam estes locais. A iniciativa da editora Cultura Sub em trazer histórias dos principais naufrágios da costa brasileira e mostrar como eles estão hoje é sensacional! Com certeza isso difundirá ainda mais o mergulho em naufrágios no Brasil”.
A pesquisa dos naufrágios, além das inúmeras visitas a bibliotecas, acervos públicos e particulares e outros contatos, teve origem em um acervo ao qual o jornalista teve acesso há mais de 30 anos, do extinto Museu Histórico Naval e Marítimo de São Vicente, conduzido pelo pesquisador Carlos Alfredo Hablitzel até a sua morte. O acervo do museu era tão completo que muitas vezes técnicos da Marinha do Brasil o consultavam.
“Muitos dos casos relatados no livro eu já tinha estudado nos documentos do Museu e alguns deles estão no meu próprio acervo”, conta Silvares. “E isso facilitou muito a pesquisa de cada capítulo”. Esses documentos também ajudaram a formar uma extensa relação editada no final do livro com quase dois mil naufrágios citados com os nomes dos navios, datas e localização, em todos os estados litorâneos do Brasil.
O caso do galeão holandês “Utrecht”, de 1648, é o mais antigo. O mais recente é o do contratorpedeiro “Paraíba”, da Marinha do Brasil, um ex-destróier dos Estados Unidos que participou da Guerra do Vietnã. Ele afundou quando deixava o Rio de Janeiro em 2005 para ser demolido na Índia.
Entre um e outro há casos de encalhe, colisão, choque em rochedos e de torpedeamento por submarinos alemães. Alguns casos, como o de conflitos bélicos, revelam a crueldade da Segunda Guerra Mundial, quando navios repletos de passageiros eram bombardeados no litoral. Alguns destes naufrágios levaram o Brasil a entrar na guerra em 1942.
Os naufrágios estão distribuídos por sete estados brasileiros: Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Além do “Principe de Astúrias”, o transatlântico espanhol que tem a marca da maior tragédia brasileira em número de vítimas fatais, o livro mostra também o caso do transatlântico italiano “Principessa Mafalda”, o segundo maior, e outros como os navios nacionais “Baependy, “Araraquara”, “Campos” e “Bagé”, torpedeados por submarinos alemães, que também vitimaram o americano “Elihu Benjamin Washburne”.
Outros naufrágios famosos pesquisados com riqueza de detalhes são o “Blackadder”, “Cap Frio”, “Orion”, “Reliance”, “Aquidabã”, “Wakama”, “Pinguino”, os vapores “Bahia” e “Pirapama”, “Dart”, “Hathor”, “Velásquez”, “Tocantins”, “Magdalena” e “Aylestone”. E muito mais.
Além dos navios que foram protagonistas destes acidentes há também histórias de outras embarcações que participaram do mesmo fato, como os submarinos alemães, alguns dos quais estão também naufragados no litoral brasileiro. Suas histórias, bem como de seus comandantes, são contadas no livro e lembram fatos marcantes da guerra.
Os episódios são uma referência como importância histórica, no aspecto da arqueologia subaquática e também pelos ângulos que proporcionam aos mergulhadores em suas visitas no fundo do mar. Foram estes três fatores que definiram a escolha dos 35 casos, ao final de uma seleção prévia.
A editora Cultura Sub atua no mercado editorial por meio da análise e publicação de livros que ampliem o conhecimento do leitor e despertem o interesse sobre aspectos ambientais.Os temas: Mar, Naufrágios, Pontos de Mergulho, Navegação, Navios, Portos e Sustentabilidade, fazem parte do dia a dia da Cultura Sub.